é hoje o dia dela
que nós sempre embebedamos
no sábado,
e apagamos todos os vestígios
no domingo.
é hoje que ela volta
com toda pompa
e circunstância
a nos provar
o massacrante renascer
da sua eterna permanência.
dia das culpas
das penitências
dia dos nus
dia de encarar contas
de marcar dentistas
de fazer revisões
de reorganizar os planos
sempre pretensamente cumpríveis.
dia de não mais adiar
as obrigações sem os carnavais
dos nossos botequins.
o mundo está de prontidão,
homens quase mansos
vestem-se nos ternos
produtivos da 2ª feira.
mulheres quase obedientes,
submissas,
fazem o super mercado
nas listas da 2ª feira.
silêncio
orações,
por favor, vamos reverenciar
porque hoje é 2ª feira
e a humanidade está fingindo
que não finge mais.
silêncio
contrição,
porque disfarçadamente
o planeta se dobra
à majestade da 2ª feira.
mas é só um dia
para atravessar,
o rio passa rapidamente
se calarmos apenas hoje
os santos gritos
dos nossos naturais.
amanhã a 2ª feira
abranda o nó apertado
dos rituais angustiados,
carimbados nas nossas cabeças,
e já podemos outra vez,
livres e vitoriosos,
enlouquecer a semana.