cabeças e almas
em sussurros submersos,
linguagens confusas,
onde tentamos tomar posse
de alguns significados implícitos
nos cabos de guerra.
e nós no meio
imaginários e disformes
sobreviventes dos purgatórios,
crianças entre sorvetes e palmadas,
mulheres entre bordéis e maternidades,
homens entre cachaças e responsabilidades.
todos sempre no meio.
você está agora no sol,
eu estou aqui,
em outro sol,
e no seu pensamento
apareço em flashes neons,
como uma intrusa na manhã.
no seu peito
surjo como vulto anônimo
que se faz hóspede irreverente
e bóia nas moléculas das águas
no vento das folhas
nos gritos dos pecadores
nas mensagens de deus
nos lamentos dos doentes
na fachada dos edifícios
nas danças das palmeiras
nos pios dos gaviões.
venho sem convites,
eu sei.
e você me assiste,
insinuante
na asma do gato,
no azeite da salada
no licor de hortelã
no seção da tarde
nos discursos dos filhos
na piada que não ri
no violão que cala
na lágrima exausta.
venho porque você vem
no vácuo da mesma indecisão,
que também aqui
é infindável.
e será sempre assim...
é esse o retrato que negamos,
que não queremos olhar
que nos agarramos
que tanto tememos
que tanto amamos
que tanto nos vive
que sempre nos mata.
e nós no meio.