O que ouço não são gemidos... são gritos
do céu e a fúria do vento que abafam soluços, soluços
que buscam um sol que me deixou tão sozinha e se escondeu de meu
medo.
Lá fora só a noite escura e a água no tempo molhando
a vidraça engraçada refletindo lágrimas ou a chuva...
O que houve com o céu?
Porque não se cala?
Procuro silêncio lá dentro, mas só o medo me fala...e
debocha de mim...
Corro nua na casa vazia ...a procura da rua...sou fantasma nas trevas,
que surge do nada, tentando se agarrar ao vazio.
Que som é este, que bate em meu peito e grita comigo?
"fica aqui, me abraça e acalma meu medo infindo das águas
revoltas!", clamo às escuras no corredor vazio...
Inexplicáveis sensações me cortam a alma, a alma
que chora e não encontra sentido, sentido do nada, o nada que grita
no escuro do tudo que corre lá fora, jorrando do céu...
Céu???
Oh céus, mais um raio!
E um grito na garganta nasce na noite... na noite de fúria,
na fúria do vento... no vento e no tempo...
E eu? onde fico? na sala, quarto ou na dor?
Sou eu outra vez perdida no corredor à procura de mim...
Busco a janela e chamo o sol:
"Oh Sol, onde andas?"
"venha por favor!!!"
"Por que demoras tanto?"
Preciso de ar, respirar , me salvar... me encontrar...
Procuro a resposta da pergunta vazia, que ficou no escuro, no escuro
da noite... a noite que veio no frio, no frio das águas que lavaram
a resposta de minha fala incolor...
E agora? Incerta é a porta que leva ao meu interior, pois só
encontro fúria, a fúria do vento que vem me saudar... e o
sol não vem...
Eterna noite que finda o dia, que busco lá dentro, lá
dentro de mim...
E só encontro caminhos, caminhos de medos que escondem as águas
que sangram do céu...
Onde estão as luzes?
Meu medo me cega, me vence e caio em prantos... sozinha na noite...
Molhada noite, vazia de sol...
O sol que grita agora, tão só... lá dentro de
mim...