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de discussão literária
Sábado
É
sábado e eu me debruço sobre poesias várias. Não
creiam que essa é uma prosa sobre sábados. Não
é. Ainda que este meu sábado esteja incomum. Sem compromissos.
Apenas eu e meu quarto a ser tirado do pânico em que está.
Eu e os meus livros a serem colocados em ordem. Inclusive, verificar
aqueles que preciso ler, que não são poucos. Nunca
são.
Sábado para por as minhas correspondências em dia, avisar
o porquê de algumas demoras, trabalho, impaciência, mais
trabalho e um poderoso e-mail de 10 megas de memória que atravancou
a minha caixa-postal. Linda a mensagem, que vou dizer à minha
prima/amiga/comadre?
Páro um pouco na lista da Blocos, sempre paro um pouco mais nela.
Vejo as dicas do Fernando para uma boa redação e me
espanto porque adoro infringir algumas delas. Digo, invento, estou
amadurecendo meu texto, um dia, talvez, quando eu não estiver
mais do lado de cá, ele vai parecer prontinho prontinho. Ah... não
sei como, mas sempre me enrolo com pontuação, é que
me ensinaram a usar pontos e vírgulas de acordo com o tempo
de minha respiração. Bem, às vezes ela é
convulsa, outras, menos, preciso trazer a gramática para a minha
mesa.
A Leila está de volta, isso é bom. Já começo
a ver graça na mensagem que, às vezes, chega quando
envio e-mail para ela. Certamente ela não acha. Seriamente
eu também não, juro. A Tempestade de Cida me fez silenciar.
Forte o sentimento, impressionante o enlace das palavras. Silenciei.
Já o Iaurete incita-me a fazer discursos. Odeio discursos, mas como
quase sempre não me contenho; arrumo outros meios de expor
meu pensamento. Ele diz "emburrecimento coletivo" e essa fala não
me soa bem, estranha eu diria ainda. Não sei argumentar com
clareza, por isso, falo apenas de um sentimento meu.
Toda vez que entrevisto alguém, pergunto sobre essa fama que o povo
brasileiro tem de ser "burro culturalmente". Pergunto para tentar compor
um raciocínio, já que no momento, tenho apenas a sensação
de que há algo de muito errado com ela.
Me lembro, nesse momento, da moça da periferia de uma grande cidade,
que apareceu no Jornal Nacional lendo Machado de Assis e outra que
surgiu encantada declamando Carlos Drummond de Andrade. Vem à
minha mente, ainda, montes de poesias que li nos últimos dias sobre
o retrato social do país. Muitas, a maioria, cheias de palavras
como "coitados", "dores", "desespero" e também, muitas ligadas
ao Sertão.
Eu sou sertaneja e achei graça, pareceram-me um tanto distantes,
de quem só conhece a coisa pela TV ou por livros ou discursos.
Questiono, às vezes, se não é esse o grande
problema de nossa "elite intelectual", as distâncias que criam
entre si e o povo.
Queria dizer a Iaurete que ao contrário dele, sou otimista. Como
ele, tenho o sonho das coletividades. A Rosy mesmo comentou, as iniciativas
cooperativistas e associativistas estão se multiplicando e isso
é maravilhoso. Vou dizer ainda, vaidosa talvez e por isso peço
que me perdoe, faço parte de uma e costumo estar, visitar
e até dar alguns treinamentos em outras. Estou perto e digo,
não é negando a globalização que elas estão
cada vez mais ampliando seus horizontes, suas visões de futuro,
um termo de administrador, não menos interessante, asseguro.
Nessas cooperativas/comunidades, tentamos construir um entendimento dessa
coisa tão polêmica e já instalada. Não há
que vir. Já é. Explicamos de uma forma bem simples:
há dez anos atrás para um produtor que mora no interior de
Minas ir à São Paulo ele demorava dias, para se comunicar
com alguém, semanas. Hoje, ele faz isso muito mais rápido
e se beneficia com as mudanças. Ao mesmo tempo em que precisa
trabalhar os próprios valores, reforçá-los,
recriá-los, transformá-los. Há um longo caminho
a ser percorrido e ele não começa com embates, guerrilhas
talvez, trocas, sempre. E nesses momentos, a identidade cultural de qualquer
comunidade, seja ela uma vila ou um país, é essencial. Estou
discursando, desculpem-me.
Troquei, por fim, as poesias sociais por outras mais leves, algumas
de amor, outras sobre cotidianos e sonhos.
Essa noite, por sinal, sonhei com meu amor. A pessoa declarava
despudoramente sua paixão por mim. Minha avó costuma dizer
que os sonhos sempre acontecem ao contrário. Não gostei.
Gosto mesmo é das palavras encantadas que kk, Leila, Maju, Fernando
e outros amigos proferem, são amorosas e costuma ser impossível
não se render a elas. Ao Fernando peço desculpas por todas
as infranções que cometi nesse texto imenso, juro que
vou aprendendo aos poucos. Testando, experimentando formas, um dia,
encontro o compasso certo.
Preciso escrever para a minha prima/amiga/comadre. Vou colocar o ponto
final aqui.
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