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discussão literári
Pacotes
me perseguem. Às vezes quando passo e me olho numa vitrine penso:
sou um pacote ambulante. Vivo empacotada por dentro e por fora .
O ser humano empacotou-se. Eu não fugo à regra. Agora mesmo
estou empacotada de beije, é bem verdade que é um elegante
pacote beije, de meias finas, “tailler “descompromissado, saltos altos,
mas é um pacote. Pacotes sempre me dão aquela sensação
de “avant premier” “trailer.” Quando você recebe um presente e ele
vem todo empacotidinho no maior capricho não dá aquele “frison”
o que será que tem aí dentro? Que pacote bonito! Mas se fitas
e laços fossem conteúdo! O pacote por fora até que
não é difícil de carregar, ou melhor, de suportar,
quer dizer, desembrulhar... Mas o pacote de dentro, este é ... um
caso sério..
Eu
detesto pacotes por dentro embrulhados, cheios de fitas, laços...
Pacotes precisam ser desembrulhados e eu sou uma desembrulhadora atrapalhada,
sempre dou fiasco, por isso deixei de me empacotar com muitos laços
e fitas, experiência de vida, quantas vezes querendo desempacotar-me
empacotei-me, eram tantos os laços as fitas, tanto papel que, além
de empacotada ficava amarrada. Mas mesmo assim, ainda assim, sou empacotada
.
Hoje
mesmo pela manhã talvez pra combinar com o beije do pacote por fora
(beije é uma cor que não é cor ... é ou não
é?) passei pelas ruas da cidade, pela minha bruta e doce cidade,
minha São Paulo querida e uma vez mais, como tantas outras
manhãs, com a cor da indiferença, da pressa, com os
laços da cegueira que se recusa a ver a miséria, a diferença
social, a brutalidade... empacotei-me de cidadã, comum.
O meu sorriso de bom dia para o ascensorista do prédio
foi um sorriso “beije”, é claro..
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