E a inspiração não veio...
Arranquei restos que sobravam de arcaico, podre e inútil e atirei pela janela vazia tentando expurgar a alma.
Há tanto vento lá fora...e muito pó aqui dentro ainda para a ser jogado fora...
Cansei de ver anjos sujos à minha volta e fingir que está tudo bem... e o telejornal ainda mostra o último reajuste salarial.
Vou chorar sempre pelo pão amanhecido, o óleo sujando o mar, o prato vazio, o papel jogado na rua, o animal morto na estrada pela velocidade anormal de um bicho tido como "normal".
No lixo, restos apodrecidos com o cheiro ainda quente da morte. Desperdício, supérfluo, esnobe riqueza, nobreza caída no fundo de um poço!
Injustiça social?
Talvez apenas as mão do destino massacrando o que resta do mundo... diriam os mais conformistas...
O grito ficou preso na garganta, ou quem sabe a humanidade é ainda surda...
Podridão, escravidão, poluição, e agora pobreza?
A casa é velha, barraco caindo.
O dinheiro é pouco, salário mínimo.
A roupa é velha, farrapos, pedaços que mal cobrem a carne gelada no arrepio do vento que sussurra lá fora...
Não posso mais respirar, preciso de ar...
O sonho é pouco, não posso dormir agora.
Há tiros lá fora, guerra pelo mais podre poder... tráfego, droga, cheiro de cola, e o carnaval já vem chegando...
Ainda não é noite e em algum lugar a menina está sendo violentada... na violência (só violência...), se vai a inocência sem chances de sonhar só mais um pouco, só mais um pouco...
E sempre temos que aprender uma lição...não aprendemos todas ainda...a dor é mestra, ensina a vida...ou ironiza na cara nossa ferida?
A fome é grande e cresce mais ainda, causa dor e como dói morrer assim... é, ainda se morre de fome...desnutrição na pele, no corpo cansado das dores da vida...e a alma? esta se alimenta com oração, não precisa de mais nada.
E o velho relógio na parede continua seu tic tac sozinho à espera do juízo final...
Nada vai bem, o mundo não pára agora, não posso descer ainda... talvez na próxima parada...