Por dentro do seu sonho
Entro no silêncio do seu sonho,
e me inclino de leve
no sorriso do seus olhos,
estremecidos de incógnitas.
Não preciso decifrá-las,
agora não preciso mais.
Apenas assisto o movimento
febril das pupilas
nos mansos bocejos
da sua intimidade.
Entro na quietude do seu sonho
sem alarde,
sem confundir suas opções,
sem alterar seus limites,
sem atravancar suas decisões.
Apenas passeio,
como quem visita o castelo
das lendas antigas,
enfeitado de sensações
embaçadas,
palácio que não suporta
em suas cristaleiras
os esbarrões dos pensamentos
rudes.
Entorno minha harpa
nas cordas do seu sonho.
Inspiro paisagens primitivas
nos devaneios
do seu leito água.
Escorrego pelo vazio dele
o beijo esquecido,
evitado, quase desfeito
no acostamento da estrada.
Sonhe também o nosso beijo
na cumplicidade
do seu travesseiro.
Sonhe nos flocos
da sua viagem
inadiável e imprecisa.
Durma em luz amável.
Eu fico aqui,
sempre de vigília,
nos despertos ramos
da nossa árvore
imóvel.