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Quase pegaram a criminosa

Matei e mato de novo, pra prisão não volto não, diz a voz ao telefone do repórter policial. Quase pegaram a criminosa seu moço, não quer comprar o jornal?
Sério seu moço eu atiro se a polícia me encontrar. Nasci no meio de nada, para  nada vou voltar. Se o senhor tiver paciência, minha história vou contar. Fui da rua, dos meninos puta nua, dosmarmanjos fui mulher. Comi casca de ovo, laranja podre e arroz duro, roubei, matei sem clemência,comunhão fiz não que roupa bonita eu não tinha e o seu padre não quis dar colher. Na cadeia fui marido, mulherzinha e muito má, esgoelei a faxineira, dei tiro em doutor de gravata e finquei muito prego no pé. Não me acredita, seu moço? Pena não poder ver o tamanho da ferida que tenho aberta no peito, tiro de arma de fogo, de porco disparado, por pouco não pega na alma, bem no meio do caroço. Sim senhor seu moço, este caroço que bate aqui, bump bump. É, a mãe da menina que apaguei disse você não tem coração! não tenho mesmo, seu moço, tenho é um caroço! Sabe o que vou fazer hoje? Tá vendo aquela casa ali? ali, não vou dizer onde. Vou entrar, matar, roubar, sujar e ficar ali, sangrando pra ver se o meu caroço para de vez de bater. Cansei, seu moço. Cansei.
Deixei  o jornal no banheiro e fui trabalhar.
 


 


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