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Velhinhos

durmo convicto
e acordo duvidoso

o dia escorre outra manhã
pelas frestas da janela
e eu ainda seguro o rabo
da noite.

ao lado da cama
sapatos em cadarços
amarram histórias,
e não sei se calço
ou descalço de vez
esses tantos vultos.

nas mãos está colado
o cheiro dos antigos,
que preciso declamar,
preciso desse nexo
que ninguém suporta mais
escutar.

arrisco alguns planos,
insisto permanência,
arranjo motivos de corpo
e engulo comprimidos,
mas pela porta entreaberta,
emperrada,
lateja constante o sinal
da passagem.

ainda temo
e me agarro no
reflexo do espelho.
ainda estou aqui
e me sorvo
no gosto do café.
ainda aconteço
e me confundo
nos canteiros das
sempre-vivas.

mais um dia,
um tempo de relógio,
insistência necessária.

escondo meus tesouros
nos convexos da alma
e vou para as praças
dos tabuleiros em xadrez.

vou inventar continuidade
ao lado dos que
já viram o relâmpago
na porta entreaberta.

como eu,
eles também seguram
o rabo das noites,
quando o sol
invade as frestas
das manhãs,
ainda amarram
seus cadarços,
nos sapatos daqui.


 


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