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tanto faz

Tanto faz.
Se a tarde cai na cabeça com a força
de um meteoro, arrebenta a vida,
destrói os sonhos doces inúteis,
desata os laços de fita de cetim
azuis dos seus projetos banais,
tanto faz.

Se um câncer lhe destrói as vísceras
ou se é noite ou amanhece
se nuvem de besouros faz sinfonia
em torno de sua cabeça
produzindo eco, ressonando
reluzindo em cores mis das asas
multicolores
                — quem se importa?

tanto faz.

Então, ora, beba!
saia por aí, cante uma canção
não se envergonhe de parecer feliz
na rua, tome um porre,
uma overdose de adrenalina,
plante-se na esquina, dê um susto
em alguém, faça alguma coisa
diferente, será que não entende
que tanto faz?

Que adianta? Desentale o sapo
preso na garganta, vomite
grite, foda alguém, mas faça
melhor dessa vez.

Porque tanto faz.
Seja mau, seja vil ou seja
honesto e bondoso, o meteoro
está vindo
o câncer está consumindo
a noite caiu
os besouros vão cantando
você vai enlouquecendo
o sapo está lhe matando
sua vida está passando e você
nem viu.

E agora tanto faz.
O muito
o pouco
o tudo
o nada
a carícia
a porrada
o beijo tresloucado.

Tanto faz
o amor virulento
a mordida
o almoço frugal
o sexo
o nexo
o medo de barata
nada importa,
não mais.

Foi. Perdeu-se.
Aquela oportunidade
rara
aquele abraço esperado
o choro contido
para não parecer ridículo
aquela fração de segundo
onde poderia ter dito
te amo
aquele poema esquecido
no fundo da gaveta
aquele amor recusado
porque “não era o momento”.

Não há mais tempo.
Não grite, não corra
não lamente
aceite o fato:
              sua vida partiu no avião
              das quatro,
              apenas diga adeus.
 


 


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