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Os nossos índios  

            Assisto a alguns documentários sobre os nossos índios, comunidades indígenas como a dos Pataxós, Krenaks e outras que estão sobrevivendo em Minas Gerais. Alguns estão praticamente integrados à vida da pequena cidade, próxima de onde vivem. Fazem compras, um rapaz trabalha como trocador em uma linha de ônibus, convivem com os demais cidadãos com tranqüilidade. Outros são bastante religiosos e são retratados rezando e cantando com fé em uma modesta capela. Alguns estão recuperando as suas antigas práticas, abandonadas há vinte anos, reunindo-se em torno do pajé e cantando, enquanto
ele toma uma bebida feita com raízes da mata, entra em transe e invoca a onça-cabocla, protetora da sua tribo e usa a fumaça do seu cachimbo para purificar as oferendas.
            Dançam ao som de linhas melódicas que se repetem, evoluindo em movimentos harmônicos com a natureza que os circunda e com a qual ainda estão integrados. Como um dos líderes declara: "somos índios, a despeito de falarmos português e estarmos com os brancos, seremos sempre índios e temos a nossa contribuição a dar, na forma como cultivamos a nossa antiga sabedoria e podermos transmití-la aos brancos."Os jovens estudam, ouvindo atentamente seus professores e professoras, índios também como eles.
            Alguns aparecem retirando o caldo da cana, aquecendo-o e fazendo rapaduras, cuidando dos seus pequenos rebanhos de bovinos e suínos. Um antropólogo declara que os Pataxós provaram que conseguem mudar, que não se repetem, ao
contrário do que se afirmou sempre contra os membros da sua cultura. E que conseguiram mudar de forma criativa, inovando em suas novas técnicas produtivas.
            A maioria se veste de roupas bem simples, algumas mulheres dançam com os seus seios à mostra, outros usam trajes típicos ritualísticos. Alguns, guerreiros, contam seus companheiros mortos em refregas com os brancos. Fico pensando na capacidade de sobrevivência desses derradeiros representantes das nações indígenas que existiam em nossas terras desde tempos remotos e que suportaram tantos massacres e todo tipo possível de descaracterização de sua cultura, desde as catequeses dos jesuítas até as dos pastores norte-americanos nos tempos de hoje. Sem contar o próprio preconceito dos ditos "civilizados", que nunca os aceitaram como eles realmente são, em sua rica forma de ser e de conviver. Através dos meios de comunicação, a sua imagem é apresentada inteiramente distorcida da realidade.
            Agora, a TV Globo está anunciando algumas mini-séries e novelas que revoltam qualquer cidadão com um mínimo de consciência quanto à cultura indígena em nosso país. Há dez anos atrás, acreditava-se que os nossos índios estavam condenados ao extermínio. Hoje, para surpresa de todos, segundo os últimos dados estatísticos, está ocorrendo um aumento quantitativo na população indígena brasileira. Ainda assim, somente o tempo irá determinar o que está reservado para os nossos índios, se conseguirão recuperar, pelo menos em parte, a sua paz de espírito e a sua riqueza, que nunca foi medida em posses de terras e de moedas, pelo menos, originalmente.


 


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