Infarto fulminante do miocárdio,
você foi ao enterro?
De noite estava lá deitado,
de manhã tava lá, esquisito,
perdemos um grande amigo...
Conversa de bar...
Entro no "Bar do Português",
ele está sentado numa mesa,
eu vou primeiro ao banheiro.
Resolvo, então, me sentar,
escolho uma mesa,
ele se levanta, me pergunta:
brama? Eu respondo: brama.
Um sujeito entra e se senta
na mesa em frente. Bem depois,
outro se senta com ele,
e começam o bate papo.
O bar é espaçoso, confortável,
com muitas mesas. Outro sujeito
já entrou pra trás do balcão,
contando que sua prima está
há vinte dias com o olho aberto,
morte cerebral. Nas paredes,
uma imagem de Santo Antônio,
azulejos com dizeres divertidos:
se tens inveja do meu viver,
trabalha, malandro. A minha
sogra é uma santa, só é uma pena
não estar no céu. Freguês
educado não cospe no chão,
não pede fiado, não diz palavrão.
Acendem as luzes (são cinco horas).
Lembra do Célio, um veado magrinho?
Falar em Célio, ele está preso de novo, né?
- a mulher pergunta (de óculos e cabelo curto),
- graças a Deus! - responde o sujeito do balcão.
O português, a essa altura,
já se levantou da mesa
e se dirigiu para os fundos do bar.
Além da mesa ocupada à minha frente,
há cinco mulheres em outra mesa,
lá perto da TV (que tem canais da Net),
que já estavam lá quando eu cheguei.
Devem trabalhar por perto,
parecem funcionárias de alguma loja
ou parentes do português.
Perto dos azulejos, um relógio,
marcando cinco e dez.
Chegam uns tipos interessantes:
este último chegou empertigado,
como um "gentleman", meneou
levemente a cabeça para os dois
que conversam sem parar na mesa em frente.
Sentou-se, após pedir uma cerveja
e dar uma olhada nos salgados.
Chega a segunda cerveja.
Resolvo comer alguma coisa,
dou uma olhada nos salgados,
acabo pedindo um "peixe à escabeche",
após o garçom me explicar o que é:
sardinhas feitas no azeite, com molho, tomate.
O tal "gentleman" vai pagar a conta,
mas, nisto, aparece um sujeito
"bem nutrido" e ele muda de idéia.
Aponta a sua mesa para o recém chegado,
parecem ser velhos conhecidos,
sentam-se e começam o papo.
O sujeito do balcão
(acho que é filho do português)
parece ser conselheiro da mulher de óculos,
lhe dá informações sobre um curso
que ela pretende fazer e lhe diz
que tinha uma colega de setenta anos
quando dele participou.
Um dos sujeitos da mesa em frente
conversa sobre branco, preto,
só ele quem fala, o outro escuta, atento:
os holandeses são muito claros,
na África todo mundo é preto...
Estou ouvindo apenas pequenos
trechos desconexos da conversa...
São seis e doze agora, o tempo urge,
estou terminando a minha brama.
Peço a conta, pago e vou embora.