Meus deuses!... :-)
Que me desculpem os tecno-puritanos, mas sou incapaz de escrever numa máquina de escrever hoje em dia! E olha que já martelei muito em minhas noites afora, incomodando pais e vizinhos... :-)
Outro dia, tive que bater à máquina um formulário (uf!) e demorei quase meia hora uma coisa que poderia ter feito em parquíssimos minutos. Uma vergonha. As teclas da máquina mecânica pareciam pequenas toras de madeira, pesadas e duras que só elas. Também não tinha ERROREX ou coisa que o valha, e meu sacrifício ficou quintuplicado, sextuplicado, sei lá. Não tinha tecla de "backspace". Girar o carro só me lembrava da falta que faz uma teclinha "enter"... Sem contar que volta e meia pressionava a tecla de espaço para ver se o cursor andava... vexaminoso.
Não é por nada não, mas depois do computador minha vida foi favorecida em muito. Não sinto saudade nenhuma das velhas máquinas de escrever - quanto mais Olivetti. Desculpe-me os que acham que estou dizendo heresias. Não acho que seja heresia, não: é facilidade. Por que vou sentir saudade daquela fita que sujava a mão, daquelas teclas pesadas, das várias folhas jogadas no lixo quando eu me punha a ficar cheia de dúvidas e cheia de erros na ponta dos dedos? Não, que saudade o quê.
Talvez só de uma coisa sinta falta - já que tudo na vida tem um porém (será que estou sendo libriana demais com as velhas olivettis?). Sinto falta da referência visual dos textos datilografados, já que textos escritos em janelas de e-mail ou do Word são apenas luz, não fazem peso na sacola nem volume na gaveta. E, na época das velhas máquinas não-elétricas, dependendo do estado ou da cor da fita (se estava velha ou novinha em folha), dependendo do tipo da letra da máquina, eu sabia em que época o texto foi escrito. Quase não precisava de data, lembrava até do lugar em que foi datilografado. Os indícios técnicos da máquina me ajudavam nas memórias diárias.
Mas dizer que sinto falta daquele trambolho que ficava em cima de minha mesinha do escritório, é mentira. Pudera eu ter um laptop, máquina viajante de recados e novelas. Mas, por enquanto, meu bolso só dá pra Pentium desktop mesmo. Se bobear, está quase para uma Olivetti.
Acho que esse papo todo, no fundo, é medo das novas tecnologias. Medo que o computador engula o papel, máquina trituradora feita de bits. Medo que a nova máquina cerceie a criatividade ou algo do gênero. Bobagem. A antiga Olivetti me dava mais nos nervos que meu computador (quase) de cabeceira, suas teclas dinossáuricas não deixavam acompanhar o raciocínio quando corria veloz... Será que estou sendo muito severa com as pobres máquinas de escrever? O computador não deixa de ser máquina de escrever, mas também é máquina que faz pensar.
Todos estes pensamentos me vieram quando li sobre esse tal de Birkerts
- não é pejorativo, é desconhecimento mesmo.
Até a discussão sobre os e-books e o futuro dos livros
eletrônicos ficou em segundo plano (e olha que o assunto me apaixona),
quando "vi" o conservadorismo do rapaz. Desculpe-me, mas não
dá para falar do futuro sendo conservador - uma visão
inibe a outra.
Acho que hoje estou com vontade de escrever. Que bom que existem listas
de amigos para discutir literatura - ou listas de escritores para
se discutir amizade, tanto faz.