página diária dos participantes da nossa lista de discussão literária
REFÚGIO

Nas minhas cataduras incessantes
procuro um ninho
de chão quieto

Recorro aos deuses pagãos
mastigando minhas saudades
a comer solidões cobertas de esquecimentos

São os ossos diários do ofício
roendo os próprios dentes

Bocejo,
livre de telhas-vãs e cumieiras,
a esperar que mensageiros
de dorsos suados,
de fuzis devassados
me tragam indecifráveis placas

Na cozinha do sonho
engolfo arcadas solares
formando luzeiros,
moendo o tétrico trigo
dos destinos dementes

Chego à exaustão
sempre rasgando-me em fios do vazio do mundo,
arrastando-me entre sangues imaginários,
banhando-me em tremuras
de miados banais

Neste vazio insaciável
dilato-me em canções de hospícios,
afogo o sopro dissolvido da morte,
engulo figuras de epidermes chupadas
e busco o âmago do abrigo
que vá me dar o merecido repouso


 


« Voltar