VENTO DAS FOLHASQue venha o vento e me abrace em folhas.
Que se aconchegue e lace;
— deslumbramento de empurrar fora aquela
melancolia esculpida.Mas o vento se ocupa com as folhas.
As folhas que cobrem tudo, até meu êxtase.
E o vento não se apercebe disto.
E hora de fazer soltar as folhas.Folhas que já estão quase secas,
despedidas, neste outono invernoso.
Em pouco os insetos estarão mortos
e enterrados com a vegetação mimosa.
Os troncos adormecerão as seivas,
os esquilos rastejarão
nas tranças das folhas,
surrupiando as bolotas de carvalhos.É preciso arrancar
as batatas das dálias e das palmas,
do contrário não renascerão noutra primavera.
E as folhas já quase sem cores,
com a chuva se enlameiam.
É tempo de estercar os vales.Ah! se o vento parasse de olhar as folhas,
e me visse,
quem sabe assoviaria em meus ouvidos
o prelúdio inexistente, com força capaz
de expulsar este êxtase.
Cessaria então essa busca infinita da paz,
quem sabe!Ah! mas o vento está ocupado
com tantas folhas!
— eu sei, que não tivera como tocar-me,
assim despida das carícias
que não pudera ganhar.É preciso retirar as folhas.