FIM DE SÉCULOTalvez a rota
seja o caminho
a trilha incerta
canhota
do lado direito sem rédeaTalvez seja a linha aberta
deserta
incerta
que acerta
bem no meio da testa
do ouvido que escuta
do riso que faz festaQuem sabe o que resta
o que há por vir
no horizonte sem fresta
nessa seta descoberta
nessa fuga incerta
incesto no escuro
medo do muro?Quem sabe o horizonte
não seja um palco
apenas um pouco
riso rouco
pouco e encoberto
de tudo o que já foi certo
e agora é torto?Quem sabe o riso murcho
a testa franzida
seja a descida
pé ante pé
medo da ré
de ser o que não se é?Quem sabe a hora morta
a casa torta
a mão canhota
sejam apenas o breque
do vento que vem leste
a nordeste do que não se vê?Não afugenta a mão louca
que a mão louca não agüenta
que a casa é pouca
pra tanta roupa
pra tanta louça
de prato quebradoPensa que a faca queima
e o fogo corta?
O fogo é a lenha
o gado de corte
o vento do norte
o nariz em péO sol é o fogo forte
a raiz da morte
de ser o que não se éMas eu temo a morte
e quero ir pro futuro de ré
Mas eu sou inocente demais
pra não temer a morte
e temer a vida
Mas eu sou santa demais
pra pensar no fogo
da santa féMaria que é José
nome confesso de mulher
raiz sedenta de fel
açúcar de flor
abelha e melMas eu já fui um dia
o coração que me resta
o veio do ninho
serpente mulherMas se eu fingir
que tudo é pesadelo
que tudo é sonho?Eu quero fugir pra longe
comer meu retrato
vomitar palavras peladas
sentir a terra
arder nas entranhas
mastro erguido
peito aberto
regurgitando MULHER!