JET LAG

Ah! tempos., que tempos!

Tempo do vai e vem
Tempo de vem e vai

Casa aqui, casa acolá

Cabeça tenho uma só
A mesma que tenho aqui
é a mesma que tenho lá

Numa algazarra medonha
com arquivo misturado
das coisas que tenho aqui
das coisas que tenho lá

A visão descensurada
codificando mensagens
deixa o cérebro atarantado

— A espátula para a torta!
  não tem aqui só tem lá
— E a tesoura que corta
é a tesoura daqui
ou a tesoura de lá?

E a gramática do Cegala!
Dos livros já nem se fala
sempre os que quero aqui
são os que tenho lá

Vagueando tonta, às vezes
dou testadas nas paredes
portas fora de lugar
É que a escuridão dos quartos
está aqui e está lá
Mania ou precisão

Mania
não dou licença pra o dia
me chegar antes das dez
já que pelas três me deito

Pra que as noites não reclamem
entrego-lhes as manhãs

Me privo
das voltas de bicicletas
do etéreo ar no campus
ao vento que acama as folhas
quando o outono é chegado

Plátanos, carvalhos e faias

Folhas, estrelas coloridas
descem ziguezagueando
tropeçando umas co'as outras

bem distintas são as formas
diferem também nas cores

vermelhas
roxas mescladas de ocre
lilases
verdes amareladas

Se os raios do sol as douram
as manhãs lembram-me as tardes
do pôr do sol de Brasília.

« Voltar