MANDIOCA
— Mãe, me dá um pão com manteiga...
Nossa, não vi a hora passar e deixei minha filha sem almoço.
Ainda bem que tem carne temperada na geladeira. Hoje é sábado
de carnaval e pretendia sair numa escola de samba. Me empolguei com a idéia
e fui logo providenciando a fantasia. Conversei com uma senhora, visinha
da minha mãe, que sai todo ano na Vila Isabel. Ela me disse que
bloco tem que escolher na ponta-do-dedo porque na Avenida dá de
tudo...traficante, veado, prostituta, ex-presidiário...Bom, isso
a gente dá um jeito, se finge de desentendido, sai dançando
como quem não quer nada, canta o samba enredo e vai que vai...Tava
tudo certo até esbarrar na mandioca. Quando falei pro meu marido
que sairíamos na ala do culto a mandioca a coisa zicou. Ficaria
desmoralizado perante a sociedade. Não!!! De jeito nenhum!! Mandioca
não!! Qualquer coisa menos isso... Enquanto ele falava, fiquei imaginando
a cena...uma enorme mandioca desfilando na Avenida, rodopiando tal qual
a ala das baianas, marrom da cor do cocô, soberana, misteriosa...intrigante,
altiva. De repente imaginei o mundo cheio de mandiocas...mandiocas felizes,
finas, grossas, mandiocas voadoras, espaciais...drags mandiocas!!! Ha!!
Meu Deus!!! Eu agora sou uma mandioca!! Como não havia percebido
antes?? E enquanto eu desfilava, todos iam gritando:
— Lá vai a mulher mandioca!!!
Líder!! Eu era uma líder!! Uma legião de mandiocas,
cenouras, pepinos e xuxus atreveram-se a me seguir. Nosso desfile multicolorido
foi um sucesso. O mais aplaudido da Avenida. Pena que o tempo da escola
acabou. Restam apenas umas poucas mandioquinhas perdidas na Sapucaí.
E minha filha continua com fome. Hora de preparar o almoço. O que
temos para acompanhar os bifes??? Ora!! Não vai me dizer que é............
Thais Helena Fantauzzi