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Subject: Das ruas...
Menino

Aquele moleque feio tinha mania de esgazear os olhos só pra me fazer medo e ainda ria - o bandido - ao me ver pular agoniada tentando parar dentro do peito meu coração estrangulado de susto.
Menino cruel era aquele, que me perseguia nas ruas, gritando indecências e que Deus Pai me perdoe, nem o pior dos fregueses dizia, porque nunca fiz mal a ninguém mas desaforo pra casa é que nunca levei.
Ai, aquele menino me tirava do prumo, alma de capeta num corpo mirrado, cheio de marcas, todas trazidas de casa das pancadas e tombos que da vida levava. E eu, ora, achava era bem-feito se ele muito apanhasse e morresse, quem sabe assim, em paz me deixasse.
Menino vadio, que me levantava a saia, me chamando de puta, e nem sequer via, meus olhos se enchendo de lágrimas, meu queixo tremendo; de dor e de raiva.
Ah! aquele menino, que nem tempo teve de homem virar, se eu soubesse que debaixo de toda a maldade se escondia uma alma em prantos, eu, que fui mãe e mulher de tantos meninos talvez o amparasse em meus seios e minha boca lhe desse, só pra fazê-lo um pouco feliz.

Mariza Lourenço


 


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