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As bruxas voltaram....

Na vidraça a silhueta da folhagem lá fora faz insinuações ao vento.
Toda luz é pouco para esconder o medo que desliza pelos pensamentos e
percorre todo corpo...
Faz tanto tempo que  não sentia mais como era o gosto, não se lembrava como
erm imensas as asas que insistiam em deixar o terror estampado nos olhos.
Silenciosa é  a dor que esmaga o verso na noite sem lua.
 Não fazem véspera, chegam de repente e não perguntam se podem entrar.
 Invadem seu íntimo,  suas lágrimas , roubam sua paz....e se deitam na sua
cama, na sua pele , sua memória, enfim...
Pára o vento!
Escute as risadas, estão rindo do medo...debocham da dor...
Que tolice! São apenas pensamentos...
Coloque a música certa e irão desaparecer...
Acenda um incenso! Queime a vela na cor certa, talvez  violeta ou azul...
Olhe, já estão se indo, não voltam mais...
 

                                                                Cida Sousa
 
 


 

Licença, Cida querida. Quem manda você me ins/pirar?

... E os duendes, também!
 

Toda luz é pouca para iluminar aquele passado distante em que ele apareceu,  no meio do deserto só vendo as estrelas. Falando dos planetas que visitara,  da responsabilidade pela rosa, "só se vê bem com o coração"... Mágico
duende, encantado , príncipe da minha vida que eu, tão jovem, não soube  amar. Por não acreditar em duendes-no-deserto? Por não poder crer em tão  raro amor? Por medo de me julgarem louca? Ou de enlouquecer mesmo de amor? Silenciosa agora é a dor do amor deixado e recordado. Re-acordado. Na minha
pele, na minha cama, no deserto que ficou no coração. Na saudade das risadas  que eram quisos. Não, não basta agora repetir a mesma, ou colocar nova  música para ouvir. Acendo incensos, queimo a vela verde da saúde para não  enlouquecer com a grande revelação: duendes existem mesmo, têm sangue, alma,  coração e só se diferenciam de nós humanos porque... sabem amar!
 

Maju Costa
 

Sortilégio

Quando no céu, a lua muda, despontando barriguda, a moça se veste de negro e recita seus encantos, para o amor segurar:
Se comigo ele não fica, com ninguém há de ficar.
E ele, que dorme inocente, não sabe explicar o que sente, quando lhe ataca um desejo, que vai do peito ao baixo-ventre:
Se comigo ele não fica, com ninguém há de ficar.
A moça ri - escandalosa - e invocando os benefícios dos deuses, despetala uma rosa, enquanto come uma fruta, cheia de tesão e de gula:
Se comigo ele não fica, com ninguém há de ficar.
E o moço - agoniado - salta da cama, aparvalhado, abre portas e janelas, tira as roupas, sai ao relento, tentando dar cabo de todo aquele tormento:
Se comigo ele não fica, com ninguém há de ficar.
Pia lá fora, a coruja, crocita o corvo, gemem as estrelas, com dores de parto, a noite estrangula os sonhos decentes, da fruta, a bruxa engole, o último pedaço:
Se comigo ele não fica, com ninguém há de ficar.
Dez pancadas na porta, um grito desesperado, a moça desce - sorrindo - as escadas, para receber seu amado. Ele entra - parece um demônio - e sem dizer nada lança-a ao chão, mordendo-lhe a boca, cheio de fúria e paixão. Se comigo ele não fica, com ninguém há de ficar.
E dessa vez quem gargalha é a lua, cúmplice que é, de toda mulher... e de bruxa!...

Mariza Lourenço
(consultora técnica para assuntos misteriosos: Dra. Mônica Carone - bruxóloga *;)
 


 


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