para uma São Paulo de febre
a doce mensagem foi enviada durante a noite de vento e foi talhada a dedo e dedo cauteloso: a mensagem saiu fina como uma nota alta e rara como uma valsa, compassada. separei as partes da mensagem em parte minha e parte tua. o resto é parte vossa, que eu carrego, carregamos esse milagre de mensagem nas costas e nas minhas postas tratadas com cal. agora falando sério: desculpem pela ausência, meu computador está um caco, mandei pro conserto. quero enxertar mais bytes de memória. quero uma máquina rápida sobre a minha mesa. uma beleza de servo informático, vocês vão ver. e poesia é o que não falta sobre as minhas horas, leito, gambiarra. e poesia larga, derradeira. pra curtir a noite inteira uma poesia que eu quase apalpo. deixa eu dizer a vocês que eu adoro uma poesia do corpo (da vertigem) algo que carregue em si (miragem) um secreto latejar de instante. a carne produziu em mim uma poesia louca. mas isso é outra história, essa mensagem foi tecida às três e às quatro ela ainda pulsava bandida, às cinco ela se desprendeu de mim. sim, pois o que eu queria mesmo dizer a vocês todos é que eu visitei uma cidade imensa. parece coisa corriqueira visitar São Paulo. você sempre ouve dizer que alguém foi, alguém vai, alguém ficou por lá. mas é que foi só um final de semana. e levei junto meu amigo do peito: a rua Augusta se abriu na minha frente feito um mar de sol e galeria e olho de gente e tudo ao mesmo tempo. eu pairei atônito, a enchente que escorreu da rua foi a gota que faltava, São Paulo respira um ar sujo e fervente, eu respirei o mesmo ar. e não conhecíamos nada, éramos de um país distante, éramos cegos na metrópole. eu era um fantasma subterrâneo do metrô. São Paulo me ofereceu a visão do frêmito: a Sé endoidecida ou o êxito de percorrermos ponta a ponta um Ibirapuera anoitecido e gelado (alugamos bicicletas e esvoaçávamos no asfalto liso do parque). e imaginem (loucura) se jogar na noite preta de São Paulo sem nunca ter visto São Paulo mais preta! no ônibus que atravessou a madrugada paulistana eu sacolejava, sacolejávamos os dois certos de que a cidade nos acolheria. a noite longa quando me enfiei numa São Paulo de desafio. mais tarde éramos centenas invadidas pelo techno, as pistas se encheram de pessoas e todas as cores brilharam na São Paulo estroboscópica das quatro, das cinco da manhã. foram as vias do tráfego que nos conduziram de volta ao hotel. dormi e fabriquei dentro de mim uma São Paulo de sonho ao avesso, planejei os viadutos, organizei na cabeça os bairros, me esfolei nos cruzamentos, construi dentro da noite uma São Paulo minha, agora sim, toda minha essa cidade louca.beijos e abraços a todos esperem que eu chego!
Ygor Raduy