Leila,
Aí vai um trecho do meu diário de ontem, que ainda nem
foi ao ar.
Beijos,
Emi.
Outro dia, Antonio pediu-me que revisasse com urgência um texto dele, tipo proposta comercial ou similar. Em primeiro lugar, meu coração confrangeu-se porque fui fazer a tarefa no computador antigo e achei o monitor tão ruim! Veio o remorso: como é que posso eu estar me deleitando com o meu, que é a oitava das maravilhas, enquando deixo aquela droga para os meninos? Aí, tentei puxar minha orelha:
— Peraí, Maria Emília! Você estava muito feliz com o monitor velho até pouco tempo atrás!
Racionalmente, a coisa funcionou, mas não dentro do peito...
Para começo de conversa, vi uns problemas de formatação no texto que não consegui resolver. Fiquei ali encafifada... Antonio, impaciente, disse:
— Mãe, primeiro corrige, depois você olha isso...
— Tim, não queira me dizer como é que eu tenho que fazer o meu serviço... (trabalhar num texto cuja formatação não me obedece é a morte para mim)
Ele saiu... Voltou pouco tempo depois, tentando ser paciente e conciliador:
— Sabe por que é que você demora tanto para fazer as coisas? Porque é cheia de minúcias, fica presa a detalhes. Eu não preciso de nada disso, só quero que você ajeite a redação.
Ou seja: pede-me um favor que tem que ser feito na hora em que ele resolve, quer me dizer como é que eu tenho que fazer o favor e ainda critica. Já vi esse filme tantas vezes antes, que não resisti e disse dando risada:
— Você é igual ao seu pai!
A resposta veio rápida e divertida:
— Sou igual ao meu pai porque você é igual a você!...
Tá certo, tá certo... Nesse ponto, até que o ogro tinha razão algumas vezes — eu disse ALGUMAS vezes!
Por causa dos meus comentários lá nas listas de Blocos, até já me sugeriram que escrevesse o "Manual de Um Ogro". Acho que não deve ser bem este o título, porque dá mais a impressão de ser um livro de auto-ajuda para ogros e eles não precisam disso: sua maior especialidade é se "auto ajudarem", coisa que já devem nascer sabendo. Acho às vezes que também não precisam aprender as técnicas perversas que utilizam: deve ser uma coisa instintiva e automática. Da mesma maneira que a gente, sem pensar, dá um sorriso para ganhar outro de volta, um ogro faz maldade para sorrir com o resultado. O título "Como livrar-se de um ogro" também não serviria, porque não é lendo um livrinho qualquer que uma mulher consegue tal proeza. A não ser que seja um manual de uma única frase: "Procure ajuda psicológica ontem!..." Outro fator a ser considerado é que ogros com "pedigree", como o que me coube na vida, já foram séria e minuciosamente dissecados num livro que comentei sob o título "Conversa de Mulheres".
Para falar a verdade, eu já tinha tido a idéia de escrever sobre o tema, antes mesmo da sugestão do pessoal de Blocos. Mas a minha vontade é de fazer algo com humor, como contar "causos", por exemplo. Uma leitura leve mas que, ao mesmo tempo, servisse como sinal de alerta para as menos avisadas — tantas de nós! Ainda mais na fase em que a gente se casa, com tantos sonhos e pensando que vai ser feliz para sempre. Aí, aparece aquele sujeito cheio de charme, todo gentil, apaixonado e... Pronto, é dali para o inferno. Por falar em inferno, o diabo é que não dá para fazer graça sobre ogros. Não para mim, pelo menos. É difícil contar histórias divertidas nas quais a gente leva a pior - eu sempre levava e saía delas desalentada, ultrajada e/ou humilhada. Mas acho que, com o tempo, isso vai ser possível, quando eu puder achar graça em mim mesma. Talvez até já esteja acontecendo, em vista do diálogo divertido que tive com Antonio. Foi a primeira vez que isso ocorreu.