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Cássia e Rita

Senhor!... oh! Senhor,
sei que nada lhe posso contar,
além do passado que me atormenta,
e da lua que me faz lembrar.
Toda a gente fingia, que nada sabia,
do amor proibido, entre Cássia e Rita.
Duas mulheres, quase meninas,
que, permitindo-se amar,
em noite de festa,
na dança de roda,
pulavam fogueira.
Que frio era aquele
que Cássia sentia,
cada vez que tocava,
os braços de Rita?
Lugar não havia
que pudesse acolher
amor tão intenso;
feito de flores, de frutos e laços.
E assim, escondidas,
iam se amando, as duas meninas,
evitando os olhares da gente,
que, mais do que raiva, inveja lhes tinha.
Mas estava aquele amor,
fadado ao fracasso,
quando em noite de lua,
resolveram se amar à beira de um lago.
Um tal Pedro Cruento, metido a valente,
sabedor do destino das duas meninas,
levou-nos a todos, por testemunhas,
doido de amores que estava por Rita.
Que visão estupenda, Senhor, lhe afirmo;
era aquela de corpos se amando,
em rasgos de paixão inocente.
Tão iguais, tão perfeitas em suas
marmóreas figuras,
que até hoje, não sei, meu Senhor,
onde começavam os cabelos de Cássia,
e terminavam os cachos de Rita.
Mas nem a visão do amor,
enterneceu aquela gente,
que, armada de pedras, paus e cacetes,
perseguiu as gazelas,
arrancando-lhes;
as peles, corações e os dentes.
E esta é a estória de um amor proibido:
Cássia e Rita,
duas mulheres... quase meninas,
que ousando se amar,
nunca mais foram vistas.
E é Pedro Cruento, o metido a valente,
que todas as noites, agora percorre
os matos, as fontes e lagos,
chorando as dores das chagas expostas,
pedindo que a lua lhe traga de volta,
os risos de Cássia, os olhares de Rita.
Ousas agora, perguntar-me o nome?
pois lhe digo, senhor: é desalento,
dor de uma vez tendo visto o amor,
afogá-lo para sempre em meus sonhos,
outrora tão belos, tão puros, singelos.
Hoje, só espero da vida, o clarão do luar,
perdida que estou, entre as lembranças
de duas meninas... quase mulheres:
Cássia e Rita.

                                                                Mariza Lourenço


 


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