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coisa viva

verifico que a noite prossegue sem volta: cada segundo ido é segundo perdido para sempre. verifico que me encontro sentado no quarto com dois olhos, uma boca – sou uma coisa. fabricado com uma matéria dócil e molhada, móvel e até bem ágil sou uma coisa viva. perscrutar o mistério da vida talvez seja demais para essa noite. mas podemos rodeá-lo, enchê-lo de palavras. podemos fabricar um mistério antigo se quisermos. mas como estou vivo prefiro falar da noite presente, noite de agora, essa que atravessamos. pois não madame noite, entre pela minha porta. como conceber a idéia de que me encontro vivo, de que minha pele é macia e branca e de que meus cabelos se encontram ligeiramente úmidos? como acreditar que sou, eu que vivo esta noite, uma máquina que sofre? deixo que a noite me resolva o enigma. quase certeza que ela me fascina. a noite fascinada me oferece uma resposta simples. mas como vou poder seguir sem teu abraço? ah, isso já foge a qualquer explanação possível.

Ygor Raduy


 


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