Cantemos o AmorCantemos o Amor, enquanto tempo sobra
Antes que caia do céu a labareda imunda
A abrir na terra vala tão profunda
Com força impenitente que a um edifício dobraCantemos esta vida entre outros pedaços
De corpos dizimados e mentes absurdas,
Cabeças enlouquecidas que ficaram surdas
Apagando do mundo os distintos traçosCantemos o amor, ora, aqui repito
Sem calar em mim o inflamado grito
De viver um instante de imponderável glóriaSe assim devemos escrever a História
Com choro, grito, sangue e aprofundada dor
Sem perder tempo, vamos cantar o Amor
Sim, amigo,
Cantemos o amor ainda que doido
e sofrido, doído...
ainda que distante e acabado
julgado perdido
Que só quem ama ou que um dia amou
o mistério da vida já sentiu,
no que foi doido ou doído e desabou,
mesmo ferido, o coração se abriu
a dar-se,
a ser,
a transformar-se humilde
em ser humano, ser somente
humano...
Quem no amor não crê
por certo já matou
e já morreu.
Quem de amor não sofreu, amigo meu,
certamente viver
não viveu.