Andréa Abdala me fez lembrar deste poema que escrevi em 1999, inspirada nos versos de Clarice Lispector, que diz assim:
"Quem já não se perguntou:Relendo-o hoje, depois de alguns anos e algumas experiências, dentre elas a visão e percepção dos ataques terroristas aos EUA, resolvi postar aqui o poema que fiz, escrito justamente ao sabor desta percepção muitas vezes amarga que é sentir-se humano, na mais ampla acepção do termo...
sou um monstro ou isso é ser uma pessoa?"
("A Hora da Estrela", Clarice Lispector)
MONSTROS HUMANOSMorando há mais de 26 anos pelo lado de cá, sabe que eu nunca fui ao topo do World Trade Center? [agora que nao poderei mais ir mesmo...] A unica vez que tentei, a fila era tao grande que desisti. A gente se acostuma com os lugares e as situações. Sempre tive medo de terremoto, por isso levei muito tempo sem conhecer a Califórnia, coisa que o fiz há dois anos, no Natal.Às vezes viver é ser um monstro
de várias facetas para a vida
relevando a verdade sentida
fazendo da carne a força vivaÀs vezes estar na vida
é não se reconhecer como gente
é ser reconhecido tendo um coração
com feições diabólicas de serpenteÀs vezes me pergunto
que monstro agora sou
pois já não me estranham mundos
por onde ninguém passouÀs vezes sinto no fundo
que meus dizeres são tentáculos
envolvendo o outro como dardos
alcançando o veio profundoÀs vezes eu me pergunto
que diabos de humano eu sou
se tudo é tão desolador e contra a vida
que nem Deus por si mesmo notouÀs vezes minto dizendo que a vida
sinto como um ser humano
mas ser mortal é tão difícil
perante tantos erros humanosSer humano é ser gentil
com faces de brisa e de demônio
é ser voraz e também ingênuo
rir com vontade do infortúnioSer humano exige tanto do humano
que o homem só se sabe mais homem
quando se liberta de sê-loRosy Feros
Em 1985, foi a minha primeira e última visita ao World Trade Center. Tenho fobia a altura, mas a vista de cima de New York era realmente muito bonita. A subida no elevador me assustou ainda mais, poucos minutos para se chegar ao topo, aquele frio na espinha. Viver cá e lá nos dá uma visão globalizada, tão em moda agora, mas vale a pena. Vivo oito meses cá e quatro lá. Bem adaptada nos dois cantos, se não fosse o jet-lag e as 4 mil mensagens à espera na caixa (mail-box), nem daria para sentir a mudança. Aqui não temos tremor de terras, só uns avisos de tornados. Esperamos que em breve tudo volte a normalidade.Fernando Tanajura Menezes
Anda em sobe-e-desce(Tornado em Bloomington - 25/10/2001)
O céu escureceu e o anúncio de tempestade
chegou logo em seguida numa tromba-d'água.
Os granizos pipocaram no teto do carro.
Esse, já com os faróis acesos,
brilha a corredeira da chuva no chão.
Os pneus cortavam a água que, jogada em arcos, voltava,
gotilhada numa enxurrada espumante enxaguando a rua.Escureceu antes do entardecer.
O caminho perdeu sua identidade e o
freio viu o tronco do carvalho que atravessou a Hight Stret.
Ouvidos e olhos aturdidos, sirenes e faróis alertavam o perigo.Sem mais ida,
à volta, a complexidade em sair dos emaranhados galhos do carvalho
misturava-se com a voz do locutor avisando do perigo.
" 'Tornado' a trinta milhas numa velocidade de cem milhas por hora."Anda em sobe-e-desce!
Subia quando passou por Bloomington.
TerremotosVida em pedaços.
Farrapos.
Cacos de quê?
De nada.
De mais nada .Márcia Maia