Três poemas para Londres
1908no
Londres,
ano de mil novecentos e outono,
fujo de mim, sou viajante sem dono;
venho de longe
em busca da bênção do sono.O vento sussurra canção de ninar
nas tardes de outuno me vendo passar.
Mãe árvore vê suas filhas partirem:
— as folhas deixaram o lar.Bailam faceiras no vento sedento,
se entregam a ele num sublime momento.
Até que deixam de ser virgens:
— e ele as deixam ao relento.E sozinhas se deixam deitar
no asfalto gelado de seu tormento.
Para a mãe árvore não podem voltar:
— apenas aguardam a morte no tempo.Assim continuo buscando o sono
de Londres
em mil novecentos e outono.
Um simples lugar
Não és mais para mim
o encanto e beleza sem fim.
Poesia partiu
de teu sonho real que já me iludiu.Agora não passas
de uma fria cidade, cinzenta e sem graça
onde vejo o tempo passarTeu fog-tristeza
faz-me negar-te realeza
onde Londres não passa de um simples lugar.
Poeta Invisível
Escrevo meus poemas
com uma caneta de pena
e tinta feita de suco de limão.Uso papel transparente
onde as letras não estão presentes
e o silêncio de quem lê é solidão.Distante estou fisicamente
e a poesia é meu corpo junto a ti.
Ninguém comenta um só verso simplesmente
é como se eu não estivesse mais aqui.Sou poeta invisível:
simplesmente me deletas.
Desconheço meu desnível:
sou poema [in]poeta.Marc Fortuna
Quando quero mentir
escrevo poemas em guardanapos brancos
de lanchonetes de nome americanoquando estou triste
escrevo poemas em guardanapos sujos de sangue
dos botecos brasileiros invisíveis
e tão reais.Flávio Machado