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Enigma

Eu aqui
e tu justo em frente de mim
cara a cara,
quiçá numa luta corpo a corpo,
tudo querendo dizer
e sem nada falar

Tu aí
e eu justo em frente de ti
sem pensar,
sem dizer

Mudos como dois postes
de madeira
enfileirados

Postes calados
e no silêncio tudo dizendo:
nada

Ah se brotassem
das bocas nossas palavras!

Quem haveria de combater as emoções
do nosso pensar?!

Eu aqui e tu
justo aí
a lambuzar os dedos
de sequilhos e broinhas
talvez pensando em
olorosos serafins
ou ciclopes loucos
preterindo o préstito
de finados

Quantos enigmas
a descalçar facetas várias!

Qual a contradição
da argila que moldou
os nossos arcabouços
em solitários calabouços?

Queria repetir calada
todo o fio condutor
de nossas vidas

Como sobreviver a
essa corrupção dos meus sentidos?

Hesito em te escutar
e não vou muito longe

Procuro um devaneio
e nada acho
— é todo em vão
o meu silêncio argento

Nada diz tua palavra
muda

Tu sempre aí
à minha frente
e eu,
eu sempre aqui
tentando decifrar
desesperado enigma

                                            Fernando Tanajura Menezes


 


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