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movimento andante pleno.

no blecaute de um tempo, os fagotes sem pressa executam o ato. com parcimônia eu te acompanho até o portão dos fundos e desfiro um golpe raso nos teus rins amarelados do outono. mas foges de mim sem pressa. no rastro fugidio das pernas – retirada – a tua fuga planejada fracassa. na escuridão os movimentos dos teu braços abrem raios. como a fenda retalhada em breu se anunciou, os membros todos segredaram uma epifania. e arranco bravo e mando aos ares toda essa desfaçatez. a gana dos rompantes me alivia, finco a pata na folhagem e descrevo um arco de calor ao teu redor. agora me acompanha.
os clarinetes entram bem no contratempo. e um e dois e estamos altos, é um passo e atingimos a fronteira que um tempo requer para expirar. porém no átimo correto eu te enlaço. com os membros contraídos eu perpasso toda a tua
circunferência. e três e quatro, as ripas desse palco estalam e no compasso ressurgido de oboés, as flautas respondem em uníssono. respira-se um tempo e logo um novo movimento ganha força. e se vão reavivados antebraços, uma oitava acima do que antes, recuperam fôlego.
movimento andante pleno, eu reafirmo o que me traz a partitura. de timbre soturno, uma nota úmida num vão exala o cheiro da orquestra. os metrônomos enlouqueram e todos os maestros por fim se recusaram a reger o disparate. mas tu continuas, eu te sigo, os acordes sobem ao teu olho extremo, teu ouvido suga o que restar de som nesse recinto. na saliva acumulada nos bocais, nos trumpetes de gracejos nas escadas, o mesmo ritmo que nos alucina.

Y.


 


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