página diária dos participantes da nossa lista de discussão literária
Meu Mundo Paralelo

Observo outra vez a mesquinhez do mundo que me cerca
Encaro o desdém daqueles que destroem sonhos
Sem sentir a criança dentro de cada ser, clamando por beleza.
Minhas mãos manchadas de tinta se estendem ao infinito
Chamando por deuses esquecidos nas brumas do passado.
O que tenho ao meu redor são cores e palavras - formas e sons
Minhas telas em branco e azul, corpos delineados contra cores
Enquanto vivo na intermissão entre o comum e o absurdo
Entre o ódio de um mundo que destrói e este mundo por mim formado.
Minhas palavras, construídas contra a poluição
Contra as algemas que restringem a beleza de apenas ser.
No meu mundo de tinta e palavras, o mar sempre banha a areia
Com águas renovadas, e o vento sempre sopra, intermitente
Como carícia e manto, sem cobrar pedágio no limiar da noite.
Neste meu mundo tresloucado, a única vergonha é não ser
Ou ser-se imitação de algo já criado, revivido, intuído.
A única palavra tabu é a que desencoraja alguém já sofrido
O único gesto errado é o que impede que o amor siga seu curso
Seja como rio impetuoso, ou como riacho tranqüilo sobre o solo.
No meu mundo de tinta e palavras, o vento preenche espaços
E possui cores absurdas de verde, dourado e azul cerúleo.
Nele tudo é ser eterno, pacífico, elegante
Como o vôo de um pássaro contra o horizonte
Na hora exata do amanhecer
Fora dos parâmetros do tempo, que a ele apenas pertencem.
No meu mundo de tinta e palavras eu sou – e o desamor do homem
Apesar do espanto, é apenas um toque escuro na tela-vida
Ainda assim cheia de encanto.

Dalva Agne Lynch

 


« Voltar