página diária dos participantes da nossa lista de discussão literária
POETA OU POETISA?

Poeta morde a língua
poetisa nela desliza,
vejam só que sina:
 resolvi "poemar".

                                                                        Andréa Abdala

AVE MULHER

Ave Mulher
Sublime ser por Deus criado
Que seja teu corpo abençoado
Que seja teu ventre sagrado.

Mulher
Tendes o poder da criação
Abençoada seja por ser o instrumento da vida
Por sorrir na dor do parto
Por quebrar as barreiras do tempo e espaço
Por ser mulher... sofrida... querida.

Ave Mulher
Maria, Madalena, Ester
Dora, Helena... Mulher.
Abençoadas sejam vocês
apenas por serem... Mulheres!

Amem
[as mulheres]
 

                                                                           Marc Fortuna

MULHERES Y LUAS

Mulheres não têm porto,
Mulheres não têm praia.

Mulheres não têm rosto,
Mulheres não têm saia.

Mulheres têm o gosto
das frutas meladas.

Mulheres têm o desgosto
das trovas não cantadas.

Mulheres têm sabor
de noite alucinada.

Mulheres têm pavor
de ferida mal curada.

Mulheres têm o sol
no fundo da noite mais fria.

Mulheres têm o mar
da água mais sombria.

Mulheres têm as cores
da natureza feminina.

Mulheres têm as dores
da paixão que nos anima.

Uma mulher não se sabe
outra coisa que não mulher.

Pois mulher é coisa vasta,
muitas luas a viver!

                                                                Rosy Feros [04/outubro/1998]

Comemorando o Dia da Mulher - uma do meu baú:
As Três Faces da Lua

A  Lua tem três faces, mas permanece uma só.
Como ela, toda mulher é uma deusa, tendo três faces
Interligadas, entrelaçadas - permanecendo uma só.
Na imensidão incompreensível que há fora do tempo
No interior insondável que é seu ser feminino
Insoldável, incompreensível, incomensurável.
Neste seu ser, ela é a Lua: criança, mãe e mulher.
A Lua Crescente é a criança que sempre será
Aquela que brinca e troça, faz ironia e se esquece
Ri e chora sem sentido, contradiz-se, entesa, cresce...
A Lua Cheia é a mãe e amante, a que ampara e conforta
A que ama seu homem, expectante, recebe e acalanta.
A mãe que amima o que parece fraco e indefeso
Cuidando tudo o que germina, cresce, floresce.
A Lua Minguante é a anciã, a mulher sábia e ponderada
A que busca o conhecimento nos astros, nas estações
E nos segredos dos corações dos homens
E toma todas as coisas com cautela.
Depois dela, é a Não-Lua. A ira, a morte, a escuridão.
A Lua Nova, que desaparece, que fere e mata.
Esta é aquela Não-Face que a Lua esconde
A que fere até ao homem que ama
E depois se esquece, se arrepende
E retorna a ser criança outra vez.
Porque a Lua tem três faces, mas permanece uma só.

Assim como a Lua, eu sou mulher, tenho três faces.
Meu ser Crescente ri, brinca contigo e faz troça
Te entesa, te irrita e depois chora, buscando teu carinho
E compreensão. A que te levanta olhos expectantes
Confiantes no teu ser muro e espada, poder e força.
Meu ser Lua Cheia é aquela que te ama e recebe confiante
Meu corpo amado e amante, criando e destilando a vida
Que do meu corpo jorra, fruto do teu amor.
Sou Lua Minguante, e minha mente busca as estrelas.
Falo de conhecimento, discuto filosofia com os sábios
Folheio alfarrábios e textos herméticos, ocultos, esquecidos.
Aconselho, pondero, meço justiça, recebo e acalanto.
Mas há também em mim a Não-Lua - a escura dança
Em que escondo a ira, o veneno, a vingança.
Porque sou mulher, sou Lua - três faces em uma só.
Três modos de perceber a vida, insondáveis, inexplicáveis
Meus três incomensuráveis modos  de te amar.

                                                                    Dalva Agne Lynch

Dalva pequeno poema resposta:
Luas
marés
mares
Luas
as fases
as faces
mulheres e mares
marés e Luas
mulheres Luas
Luas
faces
fases
mulheres
marés
mares.

                                                                         Flávio Machado


MANIFESTO EM FAVOR DA CINTURA

[Deu no jornal:
"mulheres estão ficando sem cintura"]

Nestes tempos de clones
Ciclones e silicones
De academias aeróbicas
De geometrias curvilíneas
Virando tábuas rasas
De magras rosas e raro tino
De muita anorexia nervosa
Tempos de muscular
E anabolizante ditatura
Dos globais modelos
Das indústrias do corpo
Quero neste dia mulher
Com toda poesia dizer
Em nome da melodia
Em nome da cultura
Voltem os violões à cintura.

                                                                          Ricardo Alfaya


MANCHAS

Cansada de brigar e botar banca,
num dos raros momentos de ternura,
eu hasteei minha bandeira branca
um tanto amarelada de gordura.

                                                                            Leila Miccolis


Menina-Moça

Ele a via passar todos os dias em frente a loja de ferragens onde trabalhava. Era linda, sempre arrumadinha e limpa dentro de um elegante uniforme do Colégio São José. Os cabelos louros e finos emolduravam delicadamente a tez sardenta de menina-moça. A blusa de cambraia branca, deixava entrever os seios pequeninos. Quantos anos teria? treze? quatorze?
Os olhos azuis borboleteavam cheios de promessas de encantamento. Por certo a mocinha já sonhava com seu príncipe.
Santo Deus! como gostaria de ser o escolhido. Mas não passava de um empregadinho magricela, com o rosto coberto de espinhas. Resignado, mantinha-se fiel ao bater desordenado do coração adolescente, repleto de sonhos. Foram dois anos de muda contemplação. A menina crescia e dentro do peito do pobre rapaz o amor explodia dolorido.
Certo dia  ela não veio. Ele esperou paciente. Um, dois, três meses. Não veio mais.
O menino virou homem. Estudou. Fêz-se doutor. Casou-se com uma boa moça, colega da faculdade de medicina. Não tiveram filhos. O tempo era escasso. O amor muito doce. Bastavam-se.
Vinte anos. Novamente a viu passar, cheia de pressa. Dessa vez em cima de uma maca. Os olhos azuis da menina ainda borboleteavam, a despeito das lágrimas e das dores do parto.
—  Doutor...  meu filhinho...
Salvou-a e à criança também. Nunca mais a viu.
Mas o coração adolescente daquele homem, que tanto tempo esperara, aquietou-se; o amor tinha nome: Alice!

Mariza Lourenço


 


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