Teceram meus dedos
Histórias, enredos
Poemas, cantigas
Amargas, feridas
Gravando os teus traços
Teus beijos, abraços
Em som de acalanto
Sem dor e sem espanto
Memórias apenas
De riso, de penas
Sem fim, sem começo
Sem selo, sem preço.
Teceram teus dedos
Mentiras, engodos
Rompendo com a vida
Serena, despida
E todos meus laços
E ânsias de espaços
Violando horizontes
Rompendo com as pontes
Deixando a poeira
Sem eira nem beira
De todos meus sonhos
Alegres, tristonhos.
Meus sonhos de canto
Perdidos no espanto
Surpresa e frio
Do imenso vazio
Do teu desamor.
Tecelagem II
(14/02/2000 - 5:30 AM)Mágico é o som de tua voz, soando para além das palavras proferidas
Magnetizando esse momento do ser-se, o momento chamado agora.
Mágico é o pensamento que se me vem de repente, de que talvez -
Somente talvez - existam as barreiras e as cadeias para o sentir.
Sinto esse despertar vindo de longe - com as primeiras vozes
Com os primeiros raios de luz penetrando pela janela aberta
Iluminando uma realidade que eu quero fazer inexistente
Feita de sentido, desta vez um sentido real de palavras
Tu falando em descobertas de amor, de riso, encanto.
Teu corpo afinal dançando em beleza e juventude
Teu ser aprendendo o que vem a ser amor total.
Teu sentir afinal crescendo em conhecimento
Longe de mim. Sem nada advindo de mim
Além das palavras que trancei, na noite
Tecendo-te com o Nome do Infinito.
Foi isto que te recriei para sentir
Foi isto que te libertei para ser
Tecelã e fiandeira que sou eu
Tecendo no círculo de fogo
No centro de mim mesma
A Estrela que te faltava.
E te vejo levantar-se
Esvaída de sentir
Cansada de ser.
No som do dia
Durmo enfim.
No silêncio
Tu ecoas.
Eu teço.
Sonho.
Sou.
Tecelagem III
(25/09/00)Meu amor
como criança inconsequente
irrompeste de repente
no cenário do meu dia.
Quem diria
ser tecida em tuas teias
enquanto te entremeias
às minhas linhas de poeta...Tecelagem IV
(07/07/01)Será que perdi contato, Amado meu
com a parte de mim que te sentia?
Não. Ainda há o despertar de mais um dia
mas não mais existe luz no amanhecer...
Como pode a natureza gritar que hajam cores
quando a tua ausência, em todo canto
torna sacrossanto o meu tempo de memórias?
Ah, meu Amado, o silêncio tudo acalma.
Mas na noite de minh'alma, agora és parte
na minha Arte entretecido para sempre...
Dalva Agne LynchTecelagem V
(10/07/01)para Lucy, pianista
Gotas de som
escorrem de teus dedos.
Com os meus fabrico enredos
entremeados de sonho.
Será por isto, suponho
que a mesma solidão aparece
entretecida em nossa arte?