Os dias depois da noite (***)

(Inspirado no poema 20 de Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada, de Pablo Neruda)

                       Para Isabel

Quero que aquela noite em que te conheci
nunca termine.
Mas quero mais e muito mais,
tanto pra mim quanto pra ti,
que estes 730 dias em que convivemos
repitam-se exaustivamente
um atrás do outro
– uma fila infinita com
cada qual melhor do que o outro,
um dia que só se acabe
porque depois da noite virá outro.
E, depois do outro,
a certeza de que
nunca ninguém perturbará
nossa solidão a dois,
porque bastamos ao mundo
e isso acontece
a cada dia que nasce
c em cada noite
em que distância é só ausência.
Naquela noite de livros, carne e espanto
a luz de teus olhos
reduziu os meus a puro brilho,
o som de tua voz
tornou impossível
que alguém mais me acalentasse
e alguém mais me alertasse
para a chegada de toda manhã.
Porque em nós não há mais,
apenas sempre.
Nem há talvez,
apenas tudo.

Naquele dia de sol na Borborema
nosso passado começou
a tomar conta de nós,
devagar feito sangue correndo
em veias e artérias comuns,
formando um só organismo
e neste organismo
um coração múltiplo de dois,
pulsando num só.
Como a razão da vida
e a expulsão da morte,
que só se manifesta
em suas pequenas ações
de um prazer que nunca
ninguém conheceu
tão intenso
e que nunca se acaba
de tão incrível.

São Paulo, quinta-feira 9 de junho de 2016

                                                                      José Nêumanne
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(***) Em comemoração ao 2º ano de casamento com Isabel

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