Despossuídos de fato
desamados dramalhões
largados pelas calçadas
nos trens, nas vans, caminhões
roçando nas gretas do asfalto
plantando filhos e festas
colhendo dores e restos
coronéis, enxadas e votos
cascavéis, pistolas e mortos
às carradas
Olhando praquele reló-gi-o
prodígio de tecnolo-gi-a
500 anos, quem diria!!!
A quem se dirige tal fantasia?
Desse lado do mar
Desse lado das terras
indiados, escravizados,
favelados, sitiados,
encarcerados
do lado de fora das grades
Nos querem presos daquela telinha
índios todos,
pretos todos,
pobres todos,
zés e marias, todos
Como nos pensam tolos!
Com a velha e teimosa insistência
a mesma surda resistência
filhos da mesma violência
Com orgulho, raiva, premência
Carregamos na carne a tua falência
Ostentaremos essa indigência
Do nosso nada tiramos a vidência
Futuro, prazeres, cores, essência
Vislumbre de um mundo sem tua demência.
Margô Fomavi