Não tenho medalhas
nem tenho galardões
Carrego minha carcaça
gasta da minha ignorância
Minguado no esgoto,
apontado na ponte,
dorminhoco das vias
Viaduto de ocas,
assaltante de mim
Trapaceiro de sonhos
cego verde-amerelo
de azul sem estrelas;
rato de arranha-céu
Sou parte de um povo só,
que não tem nada
Pés descalços
Sem teto. Sem terra.
Trapos sujos de pano
e alimento varrido do prato
Sem mãe
Sem pátria
Sem prata na mão
Meretriz do destino
de um caminho torto
Alijado das letras
dos aleijões do saber
Nada sou
Nada sei
Nada posso fazer
Sem saúde nem braço
Voz calada,
coberta de véu
de um roto rasgão,
de um passado sem glória
Combalido da febre
dos ladrões disfarçados
de esperança e de mortes
Fornicado de outrora
e de séculos vãos
Sou futuro — GIGANTE
[sonolento colosso
que não quer despertar]
Fernando Tanajura Menezes