A GEOGRAFIA DO RIO IPANEMA

Estou viajando na geografia do rio Ipanema
Conheço o seu leito de rio e de pedras e mato
As pedras e areia constroem arranha-céus
PE avizinha-se de Alagoas de quem foi una
Sigo o rio com olhar de peixe, olhar de pedra
Ele corre e desaparece na boca de ribeirinhos
E o rio reaparece em jorros ferozes de peixe
Dele saem baleias, tubarões e latidos de cães
Sua geografia rasga a terra com fome, à unha,
O rio Ipanema alimenta as cidades de chuva
Como sonhos que alimentam o sono de plumas
Numa velocidade de ano-luz que liga galáxias
O rio Ipanema morre dentro do rio São Francisco
Rio São Francisco nasce na Serra da Canastra
E se desembesta pra morrer na Praia do Peba
O rio Ipanema se aproxima igual peba da praia
Em partes se aprofunda, em partes ele está raso
Ao avistar Santana do Ipanema o rio rir um risco
E continua a sua viagem em seu leito de sono
Vai, rio Ipanema, cumprir o seu destino de riso

Ipanema viu morrerem de sede as suas piabas
Vai, rio Ipanema, cumprir o seu destino de rio
Você que deixou em PE a Serra do Ororubá
Você que termina sua vida de rio em Belo Monte
No povoado Ipanema onde bebe o São Francisco
Este nosso São Francisco também é alagoano
Vai, rio Ipanema, cumprir o seu destino de rio
Alaga os potes de barro dos sedentos ribeirinhos
Vai, rio Ipanema, cumprir o seu destino de rio
Antes visite as cidades de Poço das Trincheiras
Visite Santana que homenageia o nome Ipanema
E depois corte Batalha com sua água de peixe
Antes que as barragens lhe alcancem com garras
Se lhe alcançaram em Ingazeira com dedos férreos
Se lhe aprisionaram em Águas Belas, não o soltam;
Porém, rio Ipanema, se lhe soltam, solta um fio só
Vai, rio Ipanema, cumprir o seu destino de rio
Pois a barragem de Santana tem o ouro da areia
Onde são esculpidos os fósseis de seus piaus
Vai, rio Ipanema, cumprir o seu destino de rio
Não saltam mais nas suas águas lodais os mandins
Vai, rio Ipanema, cumprir o seu destino de riso

                             Maria do Socorro Farias Ricardo Almeida

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