CIDADES BRASILEIRAS

Romancinho em Alvinópolis

Chega-se a Alvinópolis
sngrando montes minerais
florestas verdes e azuis
e regiões encobertas
de nuvens, lendas, mistérios.

No Campo Alegre
o ônibus pára. E descansa o motor.
Café, requeijão
e as laranjas, no balaio da velha.

Em Monlevade à noite
a fumaça vermelha sobe
o minério toma corpo
de exportação e riqueza.

Rio Piracicaba!
A Igreja de escadaria
guarda a gratidão do escravo
– escondido na clareira
esculpia o Cristo
prometido em louvor
da liberdade.

Alvinópolis está perto
estrada de terra e curvas sinuosas.
Os mineiros antigos
cavalgam nas margens!!

Em Alvinópolis,
Guilhermina e Cyrene
preparam doce de ovos, mamão de espelho
de servir em porcelana antiga.
Joana espia o lombo
no fogão de lenha
a carne vai suando
devagarinho, Joana atiça o fogo,
tempera a carne,
Joana
que não deve faltar nas boas famílias mineiras.

A cidade divide-se em três:
Baixada e Gaspar,
para onde mudou a prefeitura
e o comércio se concentra
Santa Cruz ou Bananeira
e a Rua de Cima,
onde a cidade vicejava nos dias passados:
Cavalheiros e senhoras bem vestidos
para a estreia de “Os amores de Tomé”.
Ah! O Teatro de Alvinópolis
na lembrança dos mais velhos!

As mulheres estão sentadas
nas cadeiras italianas
o sol bate vigoroso
no “rouge” natural
de suas faces.

Há um circo na cidade
que anuncia:
Os bandidos da serra morena.
Todos se aprontam para a sessão.
Carrinhos de pipoca, algodão doce,
quebra-queixo e pirulito de tábua.
As mulheres do circo cheiram a alecrim
– vieram do fundo do sertão, sem artifícios ou truques.
Sua beleza é natural.
Ai, as mulheres do circo
depois do banho!

Tia Rosa recebe-nos para uma visita.
Prepara-se com antecedência.
Vestido rosa-pálido,
travessa nos cabelos brancos.
Uma pele nova e viçosa.
O segredo não revela a ninguém.
“Bons talcos e sabonete Reuter”
para os que insistem.

A Igreja do Rosário
resiste no morro.
Pedras próprias de pagar promessas
com os joelhos
abrem-se em caminho.
Que mestre arquiteto
a teria erguido
na lembrança da igreja irmã
Nossa Senhora do Ó.

De suas paredes
ecoam negras lamentações
os negros estendem
a festa do reinado:
Em outubro
Deus é servido
enquanto permitir
a Igreja do Rosário
resistir no morro.

Suas portadas refletem os passos na cidade.
No seu interior
A Virgem sorri
um triste sorriso
de solidão: Benedito e Ifigênia foram roubados.

Alvinópolis rouba
lentamente
o coração dos visitantes.
Tio Clodomiro dá-lhes de beber
os bons licores
da terra em sua adega.

Joana aproxima-se risonha
Com um pedaço de tenro lombo.
A banda do colégio
toca músicas de suas preferências
e Bia convoca uma partida de futebol!

As moças mais belas de Minas
distribuem rosas
E sempre vivas.

Ai, Alvinópolis!
As crianças propagam
o céu folgado
e o sossego.
Os visitantes não falam.
Ficam.

              Osvaldo André de Mello

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Do livro "Alvinópolis e Literatura", de José Afrânio Moreira Duarte, lançado em 1973.
O autor fez essa poesia, quando de sua visita acompanhado do Zé Afrânio. O poema retratou o que o escritor sentiu sobre a cidade naquela época.

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