BARRA DO CORDA
Sou brasileiro, nasci no Maranhão,
numa cidade pequenina lá no sertão.Eu menino...
A minha infância...
Quanta lembrança me recorda a minha Barra do Corda!
Os dois rios:
o Mearim de águas profundas,
águas turvas,
águas tépidas como se bortassem de fontes terminais;
o Corda de águas rasas,
águas claras,
águas geladas como se brotassem de fontes polares,
a deslizarem sobre um tapete de areia e pedras brancas
refletindo-se no espelho, à luz do sol,
como um imenso lençol de rútilos cristais!Que maravilha vê-los juntos, no mesmo leito,
correndo lado a lado, sem se misturarem;
e, lá na barra, bem no sopé do morro:
formando um delta onde a cidade se assenta,
enfim se separarem.Barra do Corda, meu orgulho e minha garrulice...
Como me ufano de ti quando recordo:
Eu, menino...
Quanta peraltice com os outros meninos do meu bairro...E hoje...
Quanta saudade daquele tempo que passou
e me marcou na minha mocidade.Os dois rios de águas diferentes
cantando,
soluçantes,
espumantes,
numa orquestração de festa, romântica seresta!
Barra do Corda querida
quanto de ti estive ausente...
E nessa ausência sentida
é o coração que mais sente!Coração bate apressado
quando a saudade recorda
passados do meu passado
na minha Barra do Corda.
Raimundo Braga MartinsDo livro: Quase Nada, Thesaurus, 1982, Brasília/DF