BRASÍLIA
Para Tancredo Neves
O poder se dilui em sorrisos
mas não disfarça as rugas dos rostos
onde olhares cansados
testemunham sobressaltos e angústiasHá cigarros e rabiscos nervosos
em papéis sobre a mesa
em que se debruça a República
com seus homens sofridos
e os problemas que desfilam à meia-vozNa sala, os gestos
e o calor dos debates
se refugiam nas sombras
da paisagem monótonaA linha do horizonte
separa o Palácio
do Brasil que tem fome
das terras sem semente
dos meninos sem mestre
dos enfermos sem remédio
dos trabalhadores sem ferramenta
dos moribundos sem esperançae das crianças que nascem
para um futuro melhorMauro Salles
Do livro: O Gesto, Massao Ohno Editor, 1993, SP