NA BR-230Ele é só um cavalo
entre pedras, serras peladas
árvores mesquinhas.Chove chuvisco em cima do cavalo,
beira-vala
bebedouro.O trabalhador já volta do eito
(o que terá capinado?)
camisa listrada, enxada ao ombro,
tarde parada nas nuvens.
Só o ônibus corre suarento
(onde a fartura dos plantios?)
e meus olhos quase perdem a placa
— Fazenda fulano de tal.Tabuletas de trânsito indicam
o solo da Borborema,
o homem e o chão,
o chão e o nome
da fruta, do bicho, das cores,
dos elementos:Roacho dos Cavalos
Pedras de Fogo
Cervoada
Queimadas
Lagoa Seca
Montada
Catolé (coco de menino vadio comer?)
Nova Palmeira
Boqueirão,
Remígio,
E nas alturas,
doçura de Coqueirinho,
Cajazeiras.Tento ser aquele cavalo (da Fazenda?)
quieto:
ele e o céu,
ele e a estrada,
a cerca,
e o silêncio enorme
na campina sem campo,
um indivíduo.Ruth Villela
Campina Grande, fevereiro, 1981