CIDADES BRASILEIRAS

Dois poemas a Campos


          A CIDADE

Sobre o rio, sobre as casas,
cúpulas, pontes, avenidas,
com acertos de acrobata,
Pássaros, metade luz,
metade sombra, levantam
o meio-dia de prata.

Nenhum silêncio mais puro
que o destes azuis prateados
dos cimos de catedral,
ciranda de ventos e anjos;
com aves de plumas negras,
negro ritmo nos telhados.

Ao longe campos perdidos
verdejam de hastes e canas.
E são espadas flexíveis,
verdes, livres oferendas.
E moinhos que vão rodando
duro rito de moendas.

No centro a praça mais ampla:
edifícios, plantas, água
e bronze de monumentos.
Tudo tão perfeito e certo,
como se estivesse junto,
neste instante em que relembro.

 

          À BEIRA DO PARAÍBA

Alvos anjos como alfanjes
cavavam fendas na ponte.
Mas lagos de sonho verde,
Num rosto que eram só asas,
cerravam meu horizonte.

Última noite de março.
Alvos anjos como alfanjes
cortavam o silêncio largo.
Por sobre a negra amurada,
testas alves, rostos graves,
moviam águas caladas.
Amor! dizer pensava,
mas ai, que as águas corriam
levando qualquer palavra.
(Na fonte os anjos andavam
serenos nas fendas claras
lâminas de coral baço
no coração espetadas.)

                      Marly de Oliveira

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