CubatãoMinha terra não passa de uma estrada,
um bambual que rumoreja ao vento;
sol de fogo em areia prateada,
deslumbramento e mais deslumbramento.O chafariz em forma de carranca,
confidente das moças do arrabalde,
despeja a sua gargalhada branca
no bojo de latão de um velho balde,Nas portas, parasitas cor de sangue,
um mastro esguio em cada casinhola;
gente tostada que desfolha o mangue,
crianças pálidas que vêm da escola.Ao fundo, a Serra. Pinceladas frouxas,
de ouro e tristeza, em fundo azul. Aquelas
manchas que são jacatirões — as roxas,
e aleluias — as manchas amarelas.A minha terra, quando a vejo, escampa,
cheia de sol e de visões amigas,
lembra-me o cromo que enfeitava a tampa
de uma caixa de goma, das antigas...Afonso Schmidt
Publicado no livro Mocidade (1921), in Poesia, Ed. Nacional, 1945, SP
Fonte: http://www.itaucultural.org.br/