DivinópolisAs hastes das gramíneas
pesavam de sementes
sob uma luz que,
asseguro-vos,
nascia da luz eterna.
Quis dizê-la e não pude,
ingurgitada de palavras
minha língua se confundia.
Cantei um hino conhecido
e foi pouco,
disse obrigada, Deus
e foi nada.
Em meu auxílio
meu estômago doeu um pouco
pelo falso motivo
de que sofrendo
Deus me perdoaria.
Foi quando o trem passou
uma grande composição
levando óleo inflamável.
Me lembrei de meu pai
corrompendo a palavra
que usava só para trens,
dizendo "cumpuzição".
O último vagão na curva
e passa o pobre friorento de
blusa nova ganhada.
Aquiesci gozosa,
a língua muda,
a folha branca,
a mão pousada.Adélia Prado
Do livro: "Cadernos de Literatura Brasileira", Instituto Moreira Salles, nº 9, junho de 2000, SP
Enviado por Leninha