Suzana VargasCRÔNICA DE RECIFEOs olhos crepusculares da cidade me espiam —
mesmo de manhã
o sol se põe eternamente aqui.Não apenas o sol, mas o mar
e o rio se encontram,
se despedem
neste limite de água no cimento.Por onde espreite
a paisagem é cinzenta: edifícios e uma
chuva iminente
onde alguém
está prestes a partir
ou a explodir.Recife não quer mostrar seu rosto
fosco
Sua alma repete
o tédio de concreto nas
pedras, anteparos do mar.
Um mar tão dificilmente azul
que avisto de longe
chegando a perguntar:
— será mesmo o mar?Tem uma placidez inigualável
uma concretude que confunde
na ilusão de água desses prédios
em sua multiplicação de sóis.A paisagem enérgica
não comove, antes nos move
a ampliar pontes em série
sobre as duras ondas desses rios.