CIDADES BRASILEIRAS


Ode à Praça XV

No portal de Nitterói, o idílio da barca.
Viajo aconchegado à calma de outrora,
como em outros passeios.
A tarde transborda.
(Na chegada, um bêbado salta à margem do porto:
toma um banho de óleo).
Repentinas reminiscências:
o ônibus encalhara em São Conrado.
Vieram as alvíssaras.
Uma noite, a cidade inundou-se de aromas.
A tessitura de um corpo feminino,
o aconchego de sensações extremas,
incenso de cereja.
A volúpia de um sorriso,
relva que dorme na tarde...
Mas era da Praça que eu falava,
a Praça XV de Novembro,
onde celebro, entre tumultos
todos os acontecimentos:
a flora brasileira dissolvida em triunfos,
escarpas, arco-íris, acauãs, aroeiras,
cardumes nos portais aquáticos.
O mar precipita vertentes.
Observo o rito audaz das ondas.
Isto posto,
proclamo a República Lírica do Brasil!




A Igreja da Penha

Entre favelas em que se acendem casa amontoadas,
a Igreja é um altar acoplado à pedra,
um farol sobre a várzea colorida.
A insígnia da Ponte coroa a perspectiva.
Policromáticas edificações:
o povoamento gradativo agarrado à encosta.
Alarido de cães, gritos de crianças,
batucadas, fogos de artifício...
Montanha cravejada de casebres,
a favela é um vulcão de expectativa.
Relíquia sobre a erupção,
a Igreja repousa em meio ao paradoxo.

                                                           Márcio Catunda

Do livro: Emoção Atlântica, Oficina Editores, 2010, RJ

                                   

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