Lisboa-mulher

Nesta mulher se cria um sonho,
todos o julgam risonho.
Ela é toda esta esperança,
que se inventa, se destrói,
corre p´la dor não se cansa,
o sofrimento não a mói.

De garganta escancarada,
tem na voz a madrugada.
Ela é a noite no desejo
sob um homem que a fatiga,
bebe da água deste Tejo,
não há saudade que a siga.

Canta em outro tom o fado,
por nunca o ter ensaiado.
Lança as mágoas na canoa,
que lhe foge na corrente,
e a gaivota que ali voa
livre poisa-lhe na mente.

Ela é a tarde, que demora,
logo que vem, vai-se embora.
Formosura junto à proa
tem na leveza a maneira
de dançar e ser Lisboa
ao lado de uma traineira.

                   João M. Jacinto

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