A LUZ DE SEVILHA

Não há uma luz sobre Sevilha,
embora sofra sol e lua;
o que há sim é uma luz interna,
luz que é de dentro, dela estua.

Luz das casas branco-caiadas,
que vem de baixo para cima,
que vem de dentro para fora
como a água de uama cacimba;

luz de dentes de luz, e vivos,
que parecem a sede da alma,
e luz que parece acender
no espaço seu andar de palma;

enfim, luz de tudo o que faz
seu estar na vida , vivê-la,
a da clara alegria interna,
de diamente extremo, de estrela.

Do livro Agrestes, in Obra Completa, Editora Nova Aguilar, 4ª reimpressão da 1ª edição, 2003, RJ


SEVILHIZAR O MUNDO

Como é impossível, por enquanto,
civilizar toda a terra,
o que não veremos, verão,
decerto, nossas tetranetas,

infundir na terra esse alerta,
fazê-la uma enorme Sevilha,
que é a contra-pelo, onde uma viva
guerrilha do ser, pode a guerra.

                                     João Cabral de Melo Neto

Do livro: Andando Sevilha, in Obra Completa, org. Marly de Oliveira, Editora Nova Aguilar, 4ª reimpressão da 1ª edição, 2003, RJ

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