Cidadã do mundo

Sim! Quero gritar essa dor
passar dolorida, me manifestar
não maniatar
sujar de lágrimas todo o parque de grama verde
ficar com o rosto ardido... vermelho!
passar rasgada de dor na avenida
nas creches, nos hospitais
ser socorrida pelas AAAs
e nas clinicas de drogados.
Pular de dor ao ver
a discriminação de negros, pobres e mulheres
curar, secar, arder!
até me convencer de que a dor é o contrário do prazer
sabendo que o alívio à dor é a dó
e o caminho entre um e outra é de mão dupla
para diminuir desigualdades sociais
é necessário muito mais do que programas paliativos
cotas para negros em universidades
concursos públicos, em empresas
para superar anos de escravidão não basta distribuir migalhas
é preciso resgatar a cidadania perdida
é doído ser tratado como inferior
num país onde se afirma não existir escravidão.
Sim, eu grito!
Lamento a opressão, o racismo, preconceitos de toda espécie,
discriminação em todas as suas camuflagens e vestimentas!
Na sucessão dos dias a dor eu mostro, o prazer escondo
e, vice-versa, infinitamente...
enquanto amanhece e anoitece em minha vida.
Enquanto o dragão cospe fogo e as flores perfumam.
Grito o meu protesto e o faço de forma elegante
a dor... assim
ela passa aos olhos dos que contemplam a vida
assim... alcança o limite do (in) suportável.
Assim,
vai aos palcos do mundo!
Fim - afim - enfim - c'est moi!

                                            Nazilda Corrêa

"Urbano" (Título alternativo na versão feita para uso do grupo Vox Brasilis - Belém/PA - 2004/2005) Referência ao trabalho de Zélia Duncan e Itamar Assumpção (Dor Elegante)

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