BANZO

Quando nasci nas ruas de um cafezal
Era noite de dezembro, noite de recital
Minha mãe me pariu de parto normal
Agachada, sozinha, solitária, feito um animal. 
Filho do capataz o mestiço Zé Feital
Homem desumano cruel e brutal
Famoso por fazer do chicote arma certeira e letal
Meu destino era uma cova ali mesmo no quintal.
Minha mãe naquela noite de festival
Aproveitando a bebedeira do tal Feital
Entregou-me a um forasteiro de outro arraial
Que me vendeu na feira do paço imperial
Minha dona foi uma nobre imperial
Que cuidou do meu cordão umbilical
Arredando de mim todo o perigo todo o mal
E por causa da ocasião me chamou Mulato Natal
Sempre me disse a verdade
Sempre me tratou sem maldade
Porém num 13 de maio a única inverdade 
Minha madrinha por ato de ingenuidade
Atendendo a uma ordem de Sua Majestade
Sem considerar a minha precariedade
Sem comida, sem emprego, sem nenhuma propriedade
Acreditando haver me dado a prosperidade
Lançou-me na rua, na marginalidade, na criminalidade,
E chamou a isso LIBERDADE !

Carvalho de Azevedo

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