Da natureza da amizade
Ah, como se melindra a amizade
ante o orgulho, a inveja, o descaso, o ciúme
ou o egoísmo
pois é paciente e em sua calma
é fiel.
Não traz em si o fogo do amor
ou os relâmpagos efêmeros da paixão
Cultiva, antes, o encantamento de renovar-se
a cada encontro
como se fora a primeira visão
do amigo.
É âncora e asas
música e silêncio
cais encantado onde aporta a nau do viver.
Mágica e misteriosa, cristal e rocha,
é rara espécie de planta
que precisa ser cuidada a cada dia
com esmero
no desvelo do carinho
na solicitude do compartilhar.Mas não resiste à erosão
que os ventos do abandono lhe impõem
nem à sede do deserto onde se abrigam prepotência
e egoísmo.
Fenece e morre
deixando um vazio jamais preenchido
uma noite sem amanhecer.
Pois se um amor se esquece em outro amor
o amargor de perder-se um amigo
não se cura na doçura de outro
amigo.Márcia Maia